"Para algo existir mesmo – um Deus , um bicho, um universo, um anjo -, é preciso que alguém tenha consciência dele. Ou, simplesmente, que o tenha inventado." (Mario Quintana)
A partir desta frase de Mario Quintana, podemos pensar que a Arte deixa de ser concebida apenas como um campo diferenciado da atividade social e passa a ser, também, um modo de praticar a cultura.
“... O homem, enquanto espécie biológica, possui uma existência material que define limites e possibilidades para o seu desenvolvimento. O cérebro, no entanto, não é um sistema de funções fixas e imutáveis, mas um sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual. (...) o homem transforma-se de biológico em sócio histórico, num processo em que a cultura é parte essencial da constituição da natureza humana.” Marta Kohl de Oliveira.
As obras da arte primitiva manifestam a vocação inventiva do homem e da sua mente criadora para interpretar a realidade. O desejo de compreender e apropriar-se dela leva o homem a tentativas de interpretação através da capacidade mental de simbolizar.
Hoje pensamos que pré-história = antes da escrita , não seria o termo mais adequado, porque desconsidera as outras linguagens que já existiam, como por exemplo a pintura, o desenho , a dança, a música...
Lascaux - França
A representação mental e simbólica é tipicamente humana. Nós, humanos, somos capazes de conceber e manejarmos linguagens que nos permitem ordenar o mundo dar-lhe sentido.
Somos seres simbólicos, e isso faz com que sejamos capazes de inventar e criar símbolos, ordenando e interpretando o mundo por meio de sistemas de representação.
Nenhuma outra espécie é capaz de simbolizar, fantasiar, sonhar, criar, imaginar...
A história do ser humano tem seus alicerces fincados na ousadia da busca e atribuição de sentidos a tudo e a todos que o cercam. Entre essas buscas, são os signos artísticos que permitem ao homem construir sua poética pessoal, seu modo singular de tornar visível seu olhar sobre o mundo.
O modo de representação sempre é uma escolha. Uma interpretação envolve uma decisão e os critérios nem sempre são conscientes, mas existem e são pautados também pela cultura.
Na linguagem da arte há criação, construção, invenção. O ser humano, através dela, forma, transforma a matéria oferecida pelo mundo da natureza e da cultura em algo significativo. O autor/artista desvela o mundo – com tudo o que esta palavra possa significar – através de seus sentidos, intuição, imaginação, intelecto, sensações.
A arte, não imita objetos, idéias ou conceitos. Ela cria algo novo, porque não é cópia ou pura reprodução, mas a representação simbólica de objetos e idéias – que também podem ser visuais, sonoros, gestuais, corporais... presentificados em uma nova realidade, sob um outro ponto de vista.
Desse modo, o ser humano poetiza sua relação com o mundo!
PAUL GAUGUIN – 1848/1903 – França - Otahi (Só)
Trata-se de uma das telas mais modernas que Gauguin realizou durante sua primeira estada no Taiti. Nenhum elemento externo distrai a atenção daquilo que é realmente importante: A PINTURA
É praticamente impossível falar de arte e de suas significações sem falar de tempo, até mesmo porque a obra artística é feita por e para seres humanos, cujas vidas são, também, indissociáveis do fator tempo.
O modo de representação sempre é uma escolha, uma interpretação, envolvendo uma decisão. Os critérios nem sempre são conscientes, mas existem e são pautadas também pela cultura.
Ernest Grombrich diz que, quando vamos desenhar uma árvore, por exemplo, mesmo diante de um modelo da natureza, teremos em nossas mentes todas as árvores que já vimos, também desenhadas, pintadas, esculpidas, com nossa percepção e emoção frente a elas.
Egito antigo.
Vincent Van Gogh – RAÍZES E TRONCOS – junho de 1890 .
Paul Cézanne - O GRANDE PINHEIRO - 1890 a 1896.
Piet Mondrian – A ÁRVORE CINZENTA - 1912.
Sebastião Salgado – Cataratas Vitória, vistas do Zimbabwe - Janeiro de 2008.
Com esses modelos internos é que criamos. A liberdade de expressão é, por isso, relativa. Somos livres dentro dos nossos próprios limites.
O psicólogo francês Henri Wallon, estudioso da infância disse que temos vários socius internos, que vivem conosco. São outros parceiros internalizados, como os teóricos que já lemos, os professores com os quais convivemos, colegas, familiares, amigos, personagens de filmes a que assistimos, enfim, todas as experiências que vivemos ou os conceitos que construímos influenciam nosso contato com o mundo.
“Por mim mesmo não tenho acesso à minha essência, sou um eterno "tornar-se”, um “vir- a
ser” que nunca se completa.“
(Sartre)
LÚCIA CASTANHEIRA ESCOLA DE ARTES 29-01-2021.
Fontes:
Livros – Sebastião Salgado- Gênesis – Editora - Taschen
Gênios da Arte –Gaugin – Editora - Girassol.
Didática do Ensino da Arte – A Língua do Mundo – Poetiza, fruir e conhecer arte - Editora -FTD.
Formas de Pensar o Desenho –Derdyk, Edith - Editora - Scipione.
VYGOTSKY - Aprendizado e desenvolvimento - Um processo sócio Histórico (Oliveira, Marta Kohl)
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